Por Melquisedeque J. Santos — Vale Jornalismo Online
O Brasil encerrou 2024 com um dado estarrecedor: a cada quatro horas, uma mulher foi vítima de feminicídio. Ao todo, 1.492 mulheres foram assassinadas por sua condição de gênero, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Trata-se do maior número registrado desde que o crime foi tipificado em 2015, superando em 0,7% o total de 2023.
A violência atinge de forma desproporcional mulheres negras e jovens. Mais de 63% das vítimas eram negras e 70% tinham entre 18 e 44 anos. Em oito de cada dez casos, o autor do crime era companheiro ou ex-companheiro da vítima, e 64% dos assassinatos aconteceram dentro de casa — o espaço que deveria representar segurança e proteção.
O retrato da violência
O feminicídio é apenas a ponta mais visível de um iceberg de abusos. A pesquisa Visível e Invisível (2025), realizada pelo FBSP em parceria com o Datafolha, revelou que 32,4% das brasileiras com 16 anos ou mais sofreram violência física ou sexual de parceiros ou ex-parceiros no último ano.
Entre os casos mais graves, 7,8% relataram espancamentos ou tentativas de estrangulamento, número que mais que dobrou em relação a 2017. A maioria das vítimas sofreu múltiplas formas de violência, com média de 3,2 modalidades no período.
O silêncio ainda é a reação mais comum: 47% das mulheres que sofreram violência não procuraram ajuda e 36% tentaram resolver sozinhas. Falta de provas, medo de represálias e descrença no sistema de justiça aparecem entre os principais motivos para a não denúncia.
O que dizem especialistas
Para a advogada e militante dos direitos das mulheres, Carla Rodrigues, o feminicídio é o “ato final de uma sequência de agressões que poderiam ter sido interrompidas se houvesse uma rede de proteção eficaz”.
Já a psicóloga Ana Paula Mendes destaca que “reconstruir a vida após a violência é um desafio que exige apoio emocional, autonomia financeira e reinserção social”.
Caminhos para enfrentar o problema
Apesar dos avanços legislativos, como a Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio, a violência de gênero permanece como um problema estrutural. Organizações de direitos humanos defendem ações integradas que envolvam:
• Educação e conscientização desde a infância, para desconstruir a cultura machista.
• Ampliação das redes de acolhimento, com atendimento psicológico, jurídico e assistência social.
• Garantia de autonomia financeira, por meio de capacitação profissional e inserção no mercado de trabalho.
Onde buscar ajuda
Casos de violência contra a mulher podem ser denunciados pelo Ligue 180, central nacional de atendimento, ou pelo 190 em situações de emergência. Delegacias da Mulher e centros de referência em todo o país oferecem apoio e acompanhamento às vítimas.