Somos uma Igreja Preta, e daí?
27 de ago de 2023 - 12:01:01

Em uma época em que a evolução e a adaptação são a norma em muitas áreas da sociedade, as igrejas não são exceção. Os espaços de adoração estão experimentando transformações que refletem as mudanças nas sociedades em que estão inseridos. Uma dessas tendências emergentes são as denominadas "igrejas pretas", que têm gerado diversas reações, desde a curiosidade até a controvérsia. Mas o que significa realmente quando dizemos: "Somos uma igreja preta"?

Primeiramente, é vital esclarecer que "igreja preta" não se refere à raça ou etnia dos frequentadores, mas ao design e atmosfera do espaço de adoração. Paredes escuras, iluminação focada e uma estética minimalista dominam esses ambientes. Ao contrário do que se poderia pensar, essa escolha não é apenas estética, mas uma tentativa de aprofundar a experiência de adoração, minimizando distrações e focando na essência da conexão espiritual.

Entretanto, será que a cor das paredes determina a sinceridade ou profundidade da adoração? Será que um ambiente escuro e focado pode, na verdade, permitir uma conexão mais profunda e genuína com Deus? Afinal, a verdadeira essência da adoração não se baseia na aparência externa, mas no coração e na intenção do adorador.

O argumento central contra as igrejas pretas é simples: "A igreja está imitando o mundo". Esta afirmação, embora carregada de conotações, perde sua força quando analisada mais profundamente. Afinal, muitos elementos que hoje são vistos como essenciais nas igrejas – pense em microfones ou sistemas de som – também são usados no "mundo", em contextos tão variados quanto baladas ou conferências.

O discurso contra as inovações nas igrejas muitas vezes não é embasado na teologia, mas sim em tradições e costumes. É essencial lembrar que a fé, em sua essência, não é sobre paredes, cores ou mesmo práticas, mas sobre uma relação profunda e pessoal com Deus. Defender tradições apenas pelo conforto do conhecido é uma postura que pode limitar o crescimento espiritual e até mesmo alienar os jovens em busca de conexão.

E, acima de tudo, a questão racial não deve ser desconsiderada. Dizer que o "preto é do diabo" é não apenas teologicamente infundado, mas também evoca nuances racistas que não têm lugar em uma instituição dedicada ao amor e à aceitação.

A verdadeira questão não é se as paredes de uma igreja são pretas ou brancas, mas se os corações daqueles dentro delas são abertos à presença de Deus e ao ensino de Seu amor. Se a fé e a adoração são genuínas, o resto é apenas estética.

 Cada igreja, em sua singularidade, deve ser um espaço de acolhimento, ensino e crescimento espiritual. Mais do que debater a cor das paredes ou o estilo de adoração, é crucial focar na missão central da igreja: propagar o amor e a palavra de Deus. Se isso estiver sendo cumprido, o restante se torna secundário.

E, para finalizar, é crucial observar que, enquanto muitos debatem a cor das paredes de uma igreja, existem questões mais profundas e perturbadoras atormentando o corpo da igreja global. A verdadeira obscuridade em muitas congregações não está relacionada à estética, mas a líderes corruptos, desvio de dinheiro dos dízimos, adultério, mentiras e enganos que corroem a essência da fé.

Em contraste, a cor das paredes parece ser um debate superficial. Talvez seja hora de desviar nosso olhar da estética e voltar nossa atenção para os reais desafios que ameaçam a integridade e a missão da igreja no mundo de hoje.

 Por: Melquisedeque J Santos

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