Em uma cidade pequena e aconchegante, as relações de amizade eram o que mantinham a comunidade unida e forte. No entanto, havia um grupo peculiar de amigos, conhecidos por todos como "os amigos do muro". Eles eram pessoas amáveis, sempre prontos para um sorriso e uma conversa amigável, mas quando se tratava de oferecer apoio em momentos críticos, suas atitudes eram imprevisíveis.
Esses amigos eram mestres em manter-se neutros, evitando tomar partidos ou expressar opiniões firmes, especialmente em situações de conflito. Eles permaneciam em cima do muro, equilibrando-se na tênue linha entre estar presente e estar ausente. Suas ações refletiam as palavras do Apocalipse: "Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; quem deras fora frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca."
Essa postura de indecisão e neutralidade acabava por criar uma distância, uma sensação de abandono nos momentos em que sua presença e apoio eram mais necessários. Eles estavam lá, mas ao mesmo tempo não estavam. Sua presença era como um eco fraco, uma sombra de amizade que não se materializava quando mais se precisava.
Com o tempo, as pessoas da cidade começaram a perceber a dança delicada desses amigos do muro. Eles perceberam que, como dizia Maquiavel, ao tentar evitar um inconveniente, esses amigos acabavam criando outro. Sua falta de comprometimento e hesitação em escolher um lado tornava-se, ela mesma, um inconveniente, um obstáculo nas relações de amizade verdadeira e apoio mútuo.
Refletindo sobre essas experiências, alguns membros da comunidade começaram a questionar o valor de uma amizade que permanecia em cima do muro. Eles entenderam que, em momentos de crise, é essencial poder contar com amigos que escolham um lado, que estejam dispostos a se molhar, a se envolver, a oferecer um ombro amigo e uma palavra de apoio.
Aos poucos, a cidade aprendeu a valorizar os amigos verdadeiros, aqueles que não tinham medo de se comprometer, de se posicionar e de estar verdadeiramente presentes quando necessário. Eles perceberam que, embora os amigos do muro pudessem oferecer uma companhia agradável em tempos de calmaria, era nos momentos de tempestade que se conhecia o verdadeiro valor de uma amizade.
Os amigos do muro, por sua vez, começaram a perceber o impacto de sua postura indecisa. Alguns decidiram descer do muro, reconhecendo que a verdadeira amizade exige comprometimento, presença e a coragem de tomar um partido. Outros permaneceram em sua posição, mas agora cientes do preço de sua indecisão.
E assim, a pequena cidade aprendeu uma lição valiosa sobre amizade e comprometimento, reconhecendo que os verdadeiros amigos são aqueles que estão lá quando mais precisamos, não em cima do muro, mas firmes e presentes, prontos para enfrentar as tempestades da vida lado a lado.
Por: Melquisedeque J Santos
