Lula Recusa Convite para Participar da Marcha para Jesus
07 de jun de 2023 - 05:28:39

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declinou do convite feito pela organização da Marcha para Jesus em São Paulo, que ocorrerá no feriado de Corpus Christi, em 8 de junho. Em uma carta direcionada ao apóstolo Estevam Hernandes, responsável pelo evento, Lula expressou seu orgulho em ter sancionado a lei que instituiu o Dia Nacional da Marcha para Jesus. Entretanto, a carta não menciona a justificativa para sua ausência, indicando apenas que outras autoridades irão representar o governo no desfile.

Lula transmitiu o convite à deputada federal Benedita da Silva e ao ministro-chefe da Advocacia-Geral da União, Jorge Messias, que aceitaram representá-lo durante a ocasião. O evento está programado para iniciar às 10h da manhã, partindo da Estação da Luz, no centro da capital paulista. Esta será a 30ª edição da Marcha na cidade, sendo organizada desde 1993 pelo apóstolo Hernandes, membro da Igreja Evangélica Pentecostal Renascer em Cristo.

Apesar de ser uma manifestação de cunho ecumênico, a Marcha tradicionalmente reúne políticos mais conservadores e de direita. Jair Bolsonaro, antecessor de Lula na presidência, era presença constante nos eventos da Marcha em todo o país, participando de edições no Rio de Janeiro, São Paulo, Manaus, Curitiba, Balneário Camboriú, Cuiabá e Uberlândia ao longo de 2022. Como católico, Bolsonaro discursou sobre temas como "ideologia de gênero", reeleições e o Partido dos Trabalhadores. Ao ser questionado pela reportagem, Fabio Wajngarten, advogado e assessor pessoal de Bolsonaro, afirmou que o ex-presidente não irá comparecer à Marcha no dia 8 em São Paulo.

Alguns especialistas avaliam que a decisão de Lula de não participar da Marcha foi acertada. Ele argumenta que o evento será um ambiente cercado de lideranças, incluindo parlamentares que se opõem fortemente ao governo e, de forma mais ampla, à figura de Lula e à esquerda. Valle acredita que, caso Lula comparecesse, provavelmente enfrentaria hostilidades.

Embora a religião tenha sido uma das pautas de campanha em 2022, Lula não tem sido bem recebido entre os evangélicos e não tem feito gestos para estreitar essa relação. Por esse motivo, a decisão de não participar da Marcha em São Paulo terá um impacto mínimo em sua imagem pública. Valle acredita que isso apenas fornecerá material para alimentar grupos de oposição, já que a Marcha é apoiada principalmente por evangélicos pentecostais, de igrejas mais novas e midiáticas, que são mais hostis ao governo de Lula.

Por outro lado, também é observado uma maior inserção de Lula entre certas camadas da população evangélicas, especialmente entre os mais pobres. Alguns também destacam que esse público não costuma participar de manifestações, devido à sua situação de vulnerabilidade social, o que dificulta seu engajamento político.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, do partido Republicanos, recebeu pessoalmente o apóstolo Hernandes e sua esposa, bispa Sônia, que entregaram o convite no dia 9 de maio. Na ocasião, os três realizaram uma oração juntos no Palácio dos Bandeirantes. Durante a campanha de 2022, o atual governador enfatizou a importância da religião em seus discursos e chegou a recitar versículos bíblicos ao lado de Michelle Bolsonaro, que é evangélica.

A recusa de Lula em participar da Marcha para Jesus reflete as divergências políticas e ideológicas que permeiam o evento. Enquanto o presidente optou por não comparecer, preferindo enviar representantes, a presença frequente de políticos conservadores, evidencia a divisão política existente no cenário nacional. Essa dicotomia entre diferentes correntes políticas e religiosas continua a marcar a relação entre o poder público e os grupos evangélicos no Brasil.

Por: Melquisedeque J Santos