Por: Melquisedeque de Jesus Santos | Vale Jornalismo Online – Conectando pessoas com histórias
Na oficina silenciosa, entre pedaços de ferro, madeira e plástico, Marcos Paschoa transforma o comum em poesia visual. Aos 52 anos, ele vive em Iguape, no litoral sul paulista, onde esculpe com as mãos a paz que encontrou na arte. Cada peça que sai de seu pequeno ateliê é mais do que um objeto: é uma memória, uma oração, uma resposta ao ruído do mundo moderno.
Nascido em São Paulo, Marcos cresceu entre ferramentas e gestos criativos. Ainda menino, desmontava carrinhos e bonecos apenas para remontá-los à sua maneira. O que parecia curiosidade infantil era, na verdade, o despertar de uma alma moldada pela sensibilidade. A arte não surgiu por acaso: corre em seu sangue. Seu avô paterno era escultor em madeira, o avô materno fabricava carrinhos e gaiolas, e sua mãe dava vida a bonecas de pano, biscuit e arte em papel machê. Sem nunca ter feito um curso formal, Marcos aprendeu pela observação e pelo instinto — uma herança silenciosa que floresceu nas mãos e na imaginação.
Mas por muito tempo sua arte permaneceu guardada. O desejo de torná-la pública só ganhou forma em 2019, quando nasceu o nome “Artes e Ofícios”, inspirado em uma conversa com o pastor de sua igreja. Sabendo da criatividade do líder espiritual, Marcos pediu ajuda para criar um símbolo que representasse seu trabalho. A logo surgiu naquele ano, mas permaneceu adormecida até março de 2025. Foi então que ele sentiu: havia chegado a hora. A marca, que representa mais do que um nome comercial, é a concretização de um sonho antigo — viver da arte, mas sobretudo compartilhar o que ela representa em sua essência.
A criação, para Marcos, é espontânea e orgânica. Nem sempre tem começo, meio e fim definidos. Às vezes, uma ideia nasce ao ver um objeto jogado na rua; outras vezes, vem de um pedido específico. Mas, na maior parte dos casos, nasce do silêncio — um pensamento solto que se transforma em projeto. Algumas peças tomam forma no mesmo dia. Outras levam dias ou semanas, sendo modificadas aos poucos até que algo dentro dele diga: “está pronta”. Seu estilo, hoje, é livre. Ele quer ir além: sonha em fazer esculturas grandes, ligadas à natureza, que reflitam a beleza bruta do mundo ao redor.
Mais do que um trabalho, a arte é, para ele, um estado de espírito. “É só eu, as ferramentas, os materiais e Deus”, diz com serenidade. Ficar horas concentrado, desconectado do mundo, imerso no gesto criativo, tornou-se uma forma de terapia — um modo de existir com propósito. Marcos sabe que não precisa de palcos, holofotes ou aplausos. Nunca ganhou prêmios, não teve grandes exposições. Mas já vendeu peças para fora de Iguape e participou, ainda que indiretamente, de eventos importantes em São Paulo. Para ele, cada criação tem seu valor. Não há “peça mais importante”: todas carregam uma história, um momento, um fragmento da alma.
Apesar de não estar envolvido diretamente em projetos sociais ou oficinas, ele alimenta um desejo simples e poderoso: ensinar. Dividir o que aprendeu, inspirar outras pessoas, mostrar que a arte pode ser alívio, sustento, libertação. “A arte ajuda a expressar o que às vezes não conseguimos dizer com palavras”, afirma. E num mundo atravessado por angústias, crises e pressa, ela pode ser também uma ponte para a cura — individual e coletiva.
Quando fala do futuro, Marcos olha com esperança. Quer continuar criando, mas não apenas por sustento financeiro. “Espero em Deus poder viver da minha arte, porque ela me traz paz”, diz. E conclui com uma frase que, por si só, justifica toda sua trajetória: “O mundo foi criado pelo maior artista que poderia existir: Deus. Ele esculpiu os mais belos rostos, pintou o mais lindo céu e o mais azul do mar.”
Em tempos de produção industrial e arte pasteurizada, a obra de Marcos Paschoa nos lembra da beleza do gesto artesanal, da poesia das mãos, do valor do silêncio e da fé que molda. “Artes e Ofícios” não é apenas o nome de um projeto. É um modo de viver — entre o barro e o sagrado.
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